sexta-feira, 23 de novembro de 2012

COMÉRCIO E SERVIÇOS em expansão: Mais de 2 milhões de novos CNPJ a cada ano.


A lei complementar que criou o regime do micro empreendedor individual - MEI em julho de 2009, tem evoluído rapidamente com a emissão de mais de 2 milhões de novos CNPJ por ano.

A maioria esmagadora desses novos CNPJ está localizada na área de Comércio e Serviços. Feito para superar os principais obstáculos que sempre caracterizaram a abertura de novas empresas em nosso país, a formalização é feita através de um site eficiente em menos de 15 minutos.

Para obter o CNPJ pede-se que o candidato, através do site na internet, emita um carnê para pagamento de 5% de um salário mínimo por mês e escolha sua atividade em uma lista identificada no próprio site e cadastrada segundo o CNAE - código nacional de atividade, gerido pelo IBGE.

Uma vez inscrito no CNPJ da Receita Federal, munido do carnê do INSS e, portanto, identificado junto às estatísticas oficiais, o trabalhador que já possuía um CPF passa a ter um CNPJ, com isenção do imposto de renda até uma renda de R$ 60.000,00 por ano. 
Nada mal.

O primeiro efeito de tal magnitude na formalização dos trabalhadores, outrora desempregados, é a redução do risco de ficar sem renda. E o segundo, é a inclusão do seguro previdenciário: INSS.

Isto vai além, obter um CNPJ abre as portas ao crédito dos bancos públicos e, ademais, facilita a contratação da prestação de serviços e fornecimento ao governo e ao setor privado em geral.

O setor de Comércio e Serviços só tem a comemorar, em poucos anos, essa forte criação de empresas vai fortalecer a legitimidade da representação dentro da economia e, ademais, vai representar uma importante injeção de recursos no chamado Sistema S*, pois a arrecadação deverá surgir e crescer inevitavelmente.


Mais ainda, em termos macroeconômicos, pode ajudar a explicar como um país que sempre conviveu com altas taxas de desemprego, começa a dar sinais de falta de mão de obra em vários setores, mesmo com a economia em pleno desaquecimento.


Transformar esse estado de coisas em uma oportunidade de crescimento do emprego e da renda é o que esperamos, agora que o  risco de operar malfeitos  com a gestão dos recursos públicos passou a ser punido como crime.   



* O Sistema S é formado pelas empresas SESC, SESI, SENAI, SEBRAE, SESCOOP, SEST/SENAT, ASTIR, SENAC e outras instituições ou organizações do setor produtivo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

LIMITAÇÕES MACROECONÔMICAS AO INVESTIMENTO NO BRASIL





Apesar da queda dos juros primários, tais restrições não são pequenas, nem de fácil solução. 


Para entender melhor, vejamos: 



1.              Gráfico do crescimento real do PIB de 1990 a 2012 mostra  grande volatilidade e que nos encontramos em ramo notoriamente descendente do ciclo econômico;

  
2.              Infraestrutura econômica deteriorada e incompleta está muito além das possibilidades de poupar e investir a curto e médio prazo do estado brasileiro. Essa percepção inibe o investidor privado, que aguarda a posta em marcha das parcerias público-privadas, enfim, a privatização;

3.              Poupança pública negativa (gasto corrente superior à receita) limita quase absolutamente o investimento do governo;

4.              Poupança doméstica bruta próxima a 16% do PIB não é suficiente para garantir o crescimento econômico sustentável acima da média observada de 3,2%aa de 1994 até 2012;

5.              Poupança externa está limitada ao nível do déficit em transações correntes (inferior a 3,5% do PIB). Logo, a maior parte do capital externo que ingressa no país tem que ser esterilizado na forma de reservas internacionais;
  
6.              O governo já percebeu que emitir títulos do Tesouro e alocá-los para desembolso através do BNDES é artifício que ignora a restrição orçamentária macroeconômica do país, contribuindo para aumentar a inflação e os desequilíbrios da economia;

7.              Cabe lembrar que o nível de inadimplência sobre os empréstimos das pessoas físicas é muito superior ao das pessoas jurídicas, praticamente o dobro;

8.              Ademais, devemos apontar que isto é nada surpreendente, pois a participação do crédito no PIB passou de 30% para 50% em uma década, aumentando sobremaneira a exposição da população às oscilações do ciclo econômico;



Tudo isto posto, fica mais fácil entender como a combinação de falta de regras e de uma estratégia mais clara, de recursos e de uma economia mundial ainda fraca, tem contribuído para o aumento da aversão a risco do investidor privado no Brasil.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

CORRIDA AO CNPJ APROXIMA A ECONOMIA DO PLENO EMPREGO EM PLENA RECESSÃO.



A partir da edição da medida provisória em julho de 2009, formalizando o instituto do MEI - microempreendedor individual, a trajetória da taxa de desemprego da economia medida pelo IBGE através da PME tem apresentado um comportamento bem fora dos padrões usuais.


Embora os dados de crescimento da economia brasileira nos últimos dez anos indiquem uma taxa média em torno dos 3,5% aa, aí incluído o máximo de 7,5% registrado em 2010, não podemos deixar de apontar o paradoxo que ocorre neste mesmo ano de 2012 onde a expectativa de fraco crescimento do PIB esperado em torno dos 1,5%, ocorre ao mesmo tempo em que é divulgada a menor taxa de desemprego da história para o mês de agosto de 2012 pelo IBGE-PME mostrou-se ligeiramente acima dos 5,0%.

As estatísticas oficiais mostram que em 2011 foram emitidos mais de 1.800.000 novos CNPJ, engrossando o número dos trabalhadores ocupados no segmento por conta própria. Como o número de CNPJ a ser emitido em 2012 deve superar esse número registrado nos anos anteriores, é fácil perceber o impacto do MEI sobre a taxa de desemprego.

É impossível imaginar que a pesquisa do IBGE-PME vá considerar como desocupados todos aqueles que passaram a ter um CNPJ e recolher ao INSS. Essa informação pode ser obtida no Portal do Microempreendedor na Internet, que tem patrocínio oficial e é totalmente confiável.

As recentes informações que chegam sobre o crescimento da participação da mão de obra ocupada no setor de serviços é notável. As estatísticas do PNAD harmonizado denunciam isso claramente.

Os dados mais recentes revelam uma escassez no setor de comércio, que vem acompanhada de elevação do salário médio, confirmando a escassez de mão de obra que ocorre hoje, principalmente pela formalização intensa da mão de obra a partir do MEI.

Enfim, a conclusão é que os trabalhadores estão em plena corrida em direção ao seu CNPJ, pois isto representa uma redução do risco de ficar sem renda.

A concorrência pela mão de obra agora tem mais empresários do que antes.

Um tiro certeiro esse.

* * * * *

sábado, 15 de setembro de 2012

Banco Central Europeu não consegue interferir em questões fiscais na zona do euro



Rádio CBN - 06/09/2012 

   

Entrevista com Mário Juan da Silva Leal, macroeconomista consultor da Confederação Nacional do Comércio - CNC e professor de Economia e Finanças da FGV.




Banco Central Europeu não consegue interferir em questões fiscais na zona do euro

http://cbn.globoradio.globo.com/programas/jornal-da-cbn-2-edicao/2012/09/06/BANCO-CENTRAL-EUROPEU-NAO-CONSEGUE-INTERFERIR-EM-QUESTOES-FISCAIS-NA-ZONA-DO-EURO.htm

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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

CRÉDITO: DETERMINANTES FISCAIS DA INADIMPLÊNCIA.


Os indicadores da evolução do crédito neste ano de 2012 mostram taxas de inadimplência expressivamente mais altas entre as pessoas físicas do que a observada entre as pessoas jurídicas.

O formidável crescimento do crédito dentro da economia brasileira nos últimos anos, foi capaz de elevar sua participação em relação ao PIB de 30% para 50%. A inegável incorporação de parcelas expressivas da população ao conjunto dos tomadores de crédito, certamente aumentou o risco de inadimplência diante das naturais oscilações do ciclo econômico.

A queda da taxa de crescimento do produto já percebida para este ano, mostrou logo isto, ao aumentar o nível de sinistros de crédito.
A subida da taxa de inadimplência veio, no entanto, acompanhada de uma diferenciação importante.

A inadimplência entre as pessoas físicas tomadoras de crédito é quase o dobro da observada entre as pessoas jurídicas.

Os novos tomadores de crédito são preferencialmente pessoas físicas e não jurídicas. Essa razão é importante, mas há outra, talvez mais importante ainda.


O fato de que as regras do jogo fiscal facultam as empresas de fazer constar em sua demonstração de resultado as despesas com juros em pé de igualdade com as despesas operacionais da empresa, não é permitido para grande maioria das pessoas físicas.  

O resultado disto é que as empresas podem repassar suas despesas com juros e os trabalhadores não. Essa possibilidade de deduzir juros antes da tributação, que têm as empresas, é feita em quase todos os países do planeta, mas há registros de exceções importantes. Em outros países, como nos EUA, por exemplo, o imposto de renda das pessoas físicas tem uma previsão de benefício fiscal sobre os juros pagos permanente que afeta o nível da taxa de juros no país.


No Brasil o benefício fiscal (Decreto lei 1358/74) concedido sobre 12% das prestações pagas ao Sistema Financeiro da Habitação - SFH, fazia um papel semelhante nos anos 70.

As possibilidades postas pelo dispositivo do MEI - Microempreendedor individual (2008) podem mudar radicalmente esta situação. Ao colocar um CNPJ ao alcance de qualquer cidadão, o MEI abre espaço para que se formalize a apresentação da despesa com juros por periodo dentro da demonstração de resultado, em um próximo passo, a exemplo do que é concedido às grandes empresas, que são obrigadas a seguir o regime de lucro real.

Enfim, o tratamento fiscal que atualmente discrimina os empregados em relação aos donos das empresas, tende a mudar. 

O aperfeiçoamento das regras que regulam a tributação em nossa democracia, na direção da justiça fiscal, é um processo natural que virá com o tempo.  

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

CRÉDITO PARA INVESTIMENTO É A MELHOR FORMA DE POUPAR.


As famílias costumam tomar crédito para ter acesso imediato aos bens e serviços que avaliam como importantes em sua vida.

O esforço de realizar uma poupança prévia e, então, partir para as compras, não é, via de regra, suficiente para atender integralmente os desejos humanos.

Os mecanismos de crédito surgem, então, para antecipar o acesso aos bens e serviços, trazendo, em contrapartida, o comprometimento explícito de parte importante de sua renda  no futuro.

Dessa maneira pode-se afirmar que tomar crédito implica na realização de poupança no futuro, no mínimo para honrar os pagamentos associados ao crédito tomado hoje.

Essa poupança forçada no futuro decorre, portanto, de uma decisão tomada hoje ao assumir algum crédito.

Em conseqüência, a importância do planejamento na hora de tomar o crédito é decisiva para seu bem estar e equilíbrio financeiro. Se o crédito se destina a algum investimento é muito provável que o bem adquirido nos recompense ao longo de sua vida útil.

Por outro lado, se o crédito se destina a consumo imediato, as recompensas terão vida curta e exigirão novos gastos ao final do prazo.

Como princípio de orientação para as escolhas das famílias, é preciso fazer uma clara segmentação na tomada de crédito entre consumo e investimento, pois isto pode ajudar muito nas decisões do orçamento familiar e na qualidade futura de vida.

Longe de dizer que o consumo não seja importante, o que afirmamos é que o crédito para investimento deve ter preferência, pois ajuda a preparar o dia de amanhã.


A aquisição da casa própria é certamente um desejo das famílias, talvez o investimento mais importante para sua qualidade de vida. Esse é um caso em que o crédito tem mérito e prioridade unânimes.


O mesmo não poderíamos dizer do automóvel. Objeto do desejo quase  universal, não se pode afirmar que se  trata de um bem de investimento necessário  para todas as famílias, já que isto tem uma relação estreita com as possibilidades colocadas pelo nível de renda de cada família.

Sem esquecer que os custos associados à manutenção do automóvel nas cidades não são pequenos, cabe lembrar ademais, que os sistemas de transporte coletivo: trens, metro, ônibus, etc, devem melhorar para atender as necessidades de  deslocamento das famílias dentro e fora  das cidades.

Apenas para reforçar o afirmado até aqui, vale citar os bens essenciais de uma família, que estão mais próximos da categoria dos bens de investimento do que dos bens de consumo. Assim, a máquina de lavar roupa, a geladeira e o fogão, por exemplo, são certamente mais necessários do que o automóvel para a grande maioria das famílias. Embora isto possa variar de acordo com a renda das famílias, na média isto está bem perto de ser verdade.

Finalmente, cabe lembrar que a poupança feita previamente ou mesmo posteriormente, via crédito, não pode dispensar o equilíbrio da decisão entre consumo e investimento. Enquanto o investimento prepara o seu futuro, o consumo recupera seu desgaste físico e emocional que ocorre no dia a dia.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

PIB SANFONA, AINDA LONGE DO CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL.


O gráfico de evolução do PIB brasileiro nos últimos 20 anos, a seguir apresentado, mais se parece com o movimento de uma sanfona, tal a volatilidade e oscilação em torno da média. Essa média, que chegou ao máximo de 3,7% em 2010, ano em que a economia cresceu 7,5%, já trafega mais baixa, especialmente depois de confirmados os 2,7% de crescimento em 2011 e dos prováveis 2,5% que devem ser registrados em 2012.
A perda de dinamismo recente da economia brasileira tem se acentuado a partir da instabilidade internacional cujo epicentro é naturalmente a Europa e o Euro.

A deflação importada não é pequena, pois já foi capaz de recolocar a inflação doméstica de volta na trajetória da meta inflacionária de 4,5%, apesar das autoridades monetárias estarem ao mesmo tempo conduzindo uma inédita redução das taxas de juros no país.

Não subestimemos a importância dos enganos de diagnóstico que tem condicionado as medidas de política econômica. Insistir em dar estímulos à demanda sem entender como atuar pelo lado da oferta tem sido uma linha permanente a conduzir os equívocos do governo.

A adequação dos juros foi uma oportunidade aproveitada que precisa ser acompanhada de outras mais precisas.

O aumento da inadimplência é um sinal que não pode ser ignorado. A formação das expectativas de retornos dos investidores leva em conta sinais como esse, especialmente em nosso país, onde a relação crédito /PIB passou de 30 a mais de 50% nos últimos anos.

O grau de endividamento da população aumenta rapidamente, tornando o crédito cada vez mais seletivo. Aí está um fundamento forte para levar as autoridades a colocar o hábito de poupar e a Educação Financeira nas prioridades de suas políticas públicas.

A nossa deficiência na formação de poupança doméstica é claramente estrutural e merece uma atenção especial, haja visto que para crescer a uma taxa superior aos atuais  3,0% em média, precisamos elevar nossa taxa de poupança doméstica.

Nossa taxa de poupança doméstica deve passar dos atuais 16,0% do PIB para algo perto dos 20,0% ao ano e, então, adicionando uma poupança externa estimada em 3,0% do PIB, vai nos permitir investir 23% ao ano e crescer em média a 4,5%aa. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Governo tenta estimular economia com compras governamentais pela primeira vez


Radio CBN - Sábado, 30/06/2012



Entrevista com Mário Juan da Silva Leal, macroeconomista da Confederação Nacional do Comércio e professor de Economia e finanças da FGV




Governo tenta estimular economia com compras governamentais pela primeira vez


http://cbn.globoradio.globo.com/programas/revista-cbn/2012/06/30/GOVERNO-TENTA-ESTIMULAR-ECONOMIA-COM-COMPRAS-GOVERNAMENTAIS-PELA-PRIMEIRA-VEZ.htm

domingo, 17 de junho de 2012

Inflação recua na China e abre espaço para a queda das taxas de juros.



Os 3% de inflação anual registradas em maio na China surpreenderam. Com isto, as autoridades monetárias chinesas não perderam tempo, pois ganharam mais liberdade para reduzir as taxas de juros e ativar a economia.


A brusca desaceleração da atividade econômica naquele país, nesta primeira quadra de 2012, acompanhando finalmente o desaquecimento mundial, esperam tenha vida curta.


A queda das taxas de juros na China é o primeiro movimento nessa direção desde 2008. O impacto esperado sobre a taxa de crescimento na China deve ser potencializado pela reversão do processo de valorização do Yuan.

Entre começo do século XXI e julho de 2005 a taxa se manteve bem desvalorizada, perto dos 8,27 Yuans/dólar.

A partir daí as pressões inflacionárias concorreram para instalar uma tendência de valorização que levou a moeda chinesa ao máximo de 6,29 Yuan/dólar em janeiro de 2012.

Daí em diante, com a queda da inflação, a reversão no sentido da desvalorização coincide com a alta do dólar no mercado internacional, trazendo a taxa de câmbio chinesa de volta aos atuais 6,37 Yuans/dólar.

Depois de ostentar uma taxa média de crescimento econômico anual superior aos 10% por mais de 15 anos, os chineses ficaram assustados com a possibilidade de ver minguar sua dinâmica de investimento e crescimento.

O efeito combinado da queda dos juros e da desvalorização de sua moeda tem efeitos expansionistas sobre a demanda, interna e externamente, podendo  ajudar a limitar a uma queda menos dramática os níveis de atividade na China.

sábado, 26 de maio de 2012

O COMERCIANTE CHINÊS: Vencendo por Estratégia.



Os analistas econômicos contemporâneos, em geral, costumam mostrar grande indefinição quando se colocam diante da questão de explicar o sucesso chinês em matéria comercial e econômica.

Enquanto alguns acham que é uma grande burrice manter grande estoque de reservas internacionais aplicadas nos EUA e em dólar, outros, pelo contrário afirmam ser esta uma importante parte da estratégia chinesa. Segundo estes últimos, a conquista do mercado norte-americano é peça central da dinâmica de crescimento e modernização da economia chinesa.

A seguir listamos os principais fatores da estratégia daquele grande país asiático:

1)    A presença crescente do capital norte-americano na China, além de fortalecer o nível de atividade e de emprego naquele país, representa a exposição a uma atualização tecnológica permanente em face da alta taxa de renovação científica e técnica oriunda da economia mais produtiva do planeta;

2)    Os capitais norte-americanos que vão produzir na China, como era de se esperar, mantém seus pontos comerciais nos EUA em pleno vigor. Com isto, o objetivo de se manter nos mercados norte-americanos, buscado pela China, é alcançado mais facilmente através da produção made in China, com livre trânsito nos EUA, um golpe de mestre, sem dúvida;

3)     Com as reservas internacionais chinesas, canalizam preferencialmente as vultosas poupanças chinesas e as aplicam nos EUA, na forma de títulos do Tesouro e depósitos no sistema bancário, o circulante nos EUA é especialmente sensível ao financiamento chinês. Ademais, este é um importante fator moderador sobre o tratamento recíproco dispensado aos operadores chineses que trabalham naquele país;

4)    A corrida recente em direção ao Dólar, em fuga do combalido Euro, produz uma espécie de efeito riqueza para os chineses. Sabidos carregadores das maiores reservas internacionais do planeta em Dólar, passam a ter um benefício macroeconômico inesperado, qual seja o de poder parar de valorizar sua moeda por força das preocupações que tinham até aqui com a inflação.




Finalmente, cabe destacar que, a permanência dessa estratégia nos últimos 20 anos, conseguiu transformar o produto Chinês no segundo PIB do planeta, superior ao do Japão e abaixo apenas do EUA mas cada vez mais próximo.

Com efeito, apresentar uma taxa média de crescimento econômico na década em torno de 10%, como conseguiu a China, só poderia ser viável com a conquista e manutenção do mercado norte-americano por prazo igualmente longo. 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

EM BAIXA O PODER POLÍTICO DOS BANCOS?


Bem ao contrário dos bancos norte-americanos e europeus, apanhados durante a crise de 2008 com níveis de alavancagem  inacreditavelmente altos, os bancos brasileiros cascudos pela convivência com longos períodos de alta inflação, atravessaram a crise iniciada em 2008 com ativos hegemonicamente dominados pela presença de títulos públicos. Não foram poucos os economistas (prêmios Nobel) que abriram a boca naquele momento para dizer que os bancos brasileiros não eram, de fato, bancos.

Tudo isto pode ser resumido nas relações dívida/PIB totalmente  opostas  presentes nos dois lados do planeta. Enquanto no Brasil essa relação é inferior aos 50%, nos países desenvolvidos chegou a extrapolar os 100% em vários desses países, como, por exemplo: Grécia, Itália, Espanha, Irlanda,...

Isto , no entanto, não foi sempre assim: vários desses países, no passado recente, ostentavam ratios de endividamento macroeconômico mais moderados e até exemplares.
É possível mostrar que o empenho em salvar os bancos foi orquestrado e conduzido por decisão política que levou a emissões dos tesouros nacionais muito além do adequado e responsável.

O “too big to fail” levado ao pé da letra representou uma emissão de títulos do Tesouro portentosa, posta em marcha por força do poder político dos bancos. Depois desse suporte aos buracos provocados pela iliquidez dos bancos, os Tesouros ficaram quebrados e passaram então a  submeter as populações de vários países a ajustes fiscais que não existiriam em sua ausência.

As tentativas de submeter os bancos a um padrão de regulação mais intenso malograram em toda parte, principalmente por força do poder políticos dos próprios bancos. Nem o presidente Obama conseguiu alguma coisa concreta em matéria de regulação.

A tentativa de enquadrar os bancos brasileiros, ora em curso no Brasil, tem uma dimensão bem diferente daquela que ocorre no mundo desenvolvido. Com alavancagem muito baixa e praticando as maiores taxas de juros do planeta, o sistema bancário brasileiro está sendo instado a aproximar-se dos padrões internacionais de taxas de juros, sem abandonar sua tradição prudencial no trato com o crédito convencional.

Salta aos olhos o disparate das taxas praticadas no Brasil versus o resto do mundo pelo mesmo grupo bancário. Não há argumentos que possam justificar o nível das taxas de juros e dos spreads praticados no Brasil.

Tecnicamente, um aspecto relevante da discussão macroeconômica subjacente refere-se ao estímulo ao crescimento econômico que decorrerá do aumento da demanda interna por crédito, por força da redução das taxas de juros.

 A desvalorização cambial que costuma vir associada com a queda dos juros, deve somar-se aos adicionais de demanda doméstica para pressionar a inflação, até que se consolide um novo patamar de equilíbrio. Essa mudança terá que ser administrada com cuidado, até que o novo patamar de inflação se acomode e retome a sua curva descendente de longo prazo.

A provável recuperação dos superávits comerciais, no lastro da desvalorização cambial do real, deve reduzir a absorção doméstica por poupança externa, o que acompanhado de um maior empenho  e  esforço doméstico para investir, deverá vir acoplado  a maior formação de poupança interna, principalmente através do aumento do superávit primário nas contas públicas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CÂMBIO, COMPETITIVIDADE e DESINDUSTRIALIZAÇÃO: A TAXA DE JUROS SELIC COMO VARIÁVEL ESTRATÉGICA!


O recuo progressivo das expectativas de inflação tem sido recebido com alívio em todo o país, especialmente pelas autoridades monetárias. Apesar do superávit primário de 2,5 % do PIB para pagar juros, o déficit nominal do setor público foi da ordem de 2,6% do PIB, mesmo levando-se em conta a queda da taxa Selic dos 12,5% aa em agosto/2011 para os atuais 10,5% aa.

Se com tudo isto, continua havendo queda nas expectativas de inflação, é fácil perceber que os fatores dominantes de deflação são de origem externa, pois suplantam o efeito doméstico de maior pressão sobre os preços, que caracterizam a presença de déficit nominal sistemático como enfrentamos.

A valorização enfrentada pelo dólar neste começo de 2012 tem sido m componente importante na moderação dos preços, seja diretamente ou indiretamente via a facilitação da oferta das importações. A fuga do Euro e a substituição pelo dólar pode se acentuar com a retomada da economia norte-americana. Esse antigo privilégio do dólar como moeda de livre conversibilidade parece funcionar como refúgio preferencial diante do colapso do Euro. Tudo isto parece indicar uma nova oportunidade para os EUA promoverem uma nova emissão de grande magnitude de sua moeda.

Nossa percepção da economia mundial nos mostra que dificilmente os EUA irão assistir de braços cruzados a valorização de sua moeda, com todos os problemas que isto traria, especialmente no comércio de mercadorias e serviços.




Isto posto, a hipótese de um novo Tsunami monetário, a ser posto em marcha pelo EUA, é cada vez menos remota. Mais sério ainda é o fato de que se este evento nos apanhar praticando as atuais taxas de juros primárias, seremos tragados por um mar de dólares que nos obrigará a assistir a uma valorização do real ainda maior do que os atuais R$1,70.
Some-se a tudo isto o baixo resultado do crescimento do PIB registrado em 2011, inferior aos 3,0% e muito aquém das expectativas mais pessimistas e teremos um quadro de claro consenso em torno da redução das taxas de juros no Brasil.

O recente episódio de flexibilização ideológica do governo ao privatizar os aeroportos é um indicador de que nem mesmo o conservadorismo tradicional de nossa política monetária poderá ficar indiferente ao ajuste das taxas primárias de juros.

 Objetivamente falando, podemos mencionar o consenso formado em torno do inadequado nível de taxas de juros que, de um lado, continuam atraindo a liquidez internacional, valorizam nossa taxa de câmbio e tiram da indústria a competitividade e as oportunidades de concorrer no plano internacional.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A VELOCIDADE DE QUEDA DOS JUROS PRIMÁRIOS NO BRASIL É ADEQUADA?


O deslocamento do estado das artes em matéria financeira desde a crise financeira em 2008 para um nível de taxas de juros muito baixo, nunca antes visto, é notável. Nos EUA, na Europa e no Japão o traço comum tem sido o baixo nível de atividade acompanhado de taxas de juros muito baixas. Os emergentes, por sua vez, já enfrentam importantes surtos inflacionários, pois são as atuais locomotivas de crescimento planetário.

Os 6,5% de variação do IPCA registrado no Brasil em 2011 foram recebidos com alívio pelo governo brasileiro, já que ainda durante o ano foram registrados acumulados em 12 meses do IPCA superiores a 7,0%. A valorização do Dólar neste começo de ano e a consequente valorização do Real se, por um lado, é sinal alvissareiro de menores pressões inflacionárias, por outro já foi responsável por um déficit comercial mensal no mês de janeiro absolutamente inédito, que preocupa.

A prosseguir o atual ritmo de deterioração do ambiente externo na Europa, mesmo uma recuperação moderada dos níveis de atividade nos EUA, o carry trade em direção ao Brasil deve continuar.

Diante disto, o Banco Central tende a promover reduções adicionais das taxas primárias de juros, limitadas naturalmente  ao  efeito líquido sobre a inflação decorrente da combinação resultante da deflação de origem externa e das pressões inflacionárias domésticas.

O consenso de que as taxas de juros primárias no Brasil são altas, e por isso devem cair mais, já está formado.O que não sabemos, e tampouco as autoridades monetárias, é a velocidade a imprimir. Tal qual em dias de chuva, reduzir a velocidade é natural, mas o que é mais difícil na gestão é acertar o timing da redução.

Se for mais rápido do que o adequado, a inflação de origem doméstica pode suplantar o componente de  deflação de origem externa e interromper o ajuste bem sucedido até aqui, em direção aos 4,5% da meta inflacionária em 2012.


Se a redução das taxas de juros for mais lenta do que o adequado, aumentam as chances de alcançar a meta de inflação ainda em 2012, mas, em contrapartida, é quase impossível levar a economia a uma taxa de crescimento econômico superior à média de crescimento registrado na década, ou seja, de 3,7%.  

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CHINA - CÂMBIO DE 6,29 YUAN/DÓLAR É RECORD DE VALORIZAÇÃO.

No século XXI o país notável em termos de crescimento econômico é, sem dúvida, a China.


Os 10% de média de crescimento anual registrado naquele país asiático é digno de nota em qualquer critério de avaliação. Quaisquer questionamentos metodológicos sobre a apuração desses resultados sucumbem diante das evidências.

Em nenhum momento da história econômica dos países se registrou um desempenho dessa magnitude. Para se ter uma idéia aproximada do que significa tal feito, podemos compará-lo com os melhores momentos de crescimento no Brasil, que chegou a crescer acima dos 10% durante o milagre brasileiro na década de 70 e a 7,5% em 2010, mas nunca a média do crescimento se manteve sequer perto dos 7%. Só para reforçar o afirmado, basta lembrar que nos últimos dez anos a taxa média de crescimento do Brasil ficou em 3,7% pelos dados oficiais.

A presença crescente da China no comércio mundial é um fato contundente. Suas vendas são altamente competitivas e apoiadas por uma política cambial centrada na forte desvalorização de sua moeda, o Yuan.

Para operar essa estratégia, apoiada em fortes desvalorizações de sua moeda, a China conta com importante diferencial, qual seja, a maior taxa de poupança do planeta.
Para entender como isto funciona, basta lembrar: com a grande poupança em suas mãos, as autoridades chinesas podem adquirir o capital externo que ingressa no país, seja por conta de investimento ou superávits comerciais, e então remetem as divisas para a formação de grande estoque de Reservas Internacionais (superior a US$ 3 trilhões) em seu nome, mas no exterior.
Com isto conseguiu manter sua moeda fortemente desvalorizada 8,27 yuan/dólar em todo século XXI até jul/2005, quando começou a atual fase de flexibilização cambial, até chegar aos atuais 6,29 yuan/dolar, 24% de valorização em relação ao patamar do início do século.

O ritmo de valorização atual da moeda chinesa prossegue e não dá sinais de encerrar-se.

 A taxa nominal está se valorizando próxima aos 5%aa, o que,cumulativamente com a presença de uma inflação anual também dessa mesma magnitude, representa uma valorização da taxa real de cambio não desprezível, pois tende a subtrair importante parte da competitividade dos produtos chineses pelo mundo a fora.

Alguns reflexos já se podem vislumbrar dessa mudança na política cambial chinesa:

1.         O aumento do consumo na China, que já ajudou em 2011 as exportações brasileiras de alimentos e commodities, deve continuar;


2.         O crescimento e o investimento na China devem ser menores enquanto a inflação não ceder.

Este assunto te interessou?

Sugiro a leitura/releitura do texto escrito neste Blog em 27/outubro/2011:

INFLAÇÃO EM ALTA LEVA CHINA A VALORIZAR O YUAN.
http://economiadepoisdacrise.blogspot.com/2011/10/inflacao-em-alta-leva-china-valorizar-o.html

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Macroeconomista, Consultor e Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV e da FK Partners. Autor do livro Saia do Vermelho - Editora Qualitymark

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