O deslocamento do estado das artes em matéria financeira
desde a crise financeira em 2008 para um nível de taxas de juros muito baixo,
nunca antes visto, é notável. Nos EUA, na Europa e no Japão o traço comum tem
sido o baixo nível de atividade acompanhado de taxas de juros muito baixas. Os
emergentes, por sua vez, já enfrentam importantes surtos inflacionários, pois
são as atuais locomotivas de crescimento planetário.
Os 6,5% de variação do IPCA registrado no Brasil em 2011
foram recebidos com alívio pelo governo brasileiro, já que ainda durante o ano
foram registrados acumulados em 12 meses do IPCA superiores a 7,0%. A
valorização do Dólar neste começo de ano e a consequente valorização do Real
se, por um lado, é sinal alvissareiro de menores pressões inflacionárias, por
outro já foi responsável por um déficit comercial mensal no mês de janeiro
absolutamente inédito, que preocupa.
A prosseguir o atual ritmo de deterioração do ambiente externo
na Europa, mesmo uma recuperação moderada dos níveis de atividade nos EUA, o
carry trade em direção ao Brasil deve continuar.
Diante disto, o Banco Central
tende a promover reduções adicionais das taxas primárias de juros, limitadas
naturalmente ao efeito líquido sobre a inflação decorrente da
combinação resultante da deflação de origem externa e das pressões
inflacionárias domésticas.
O consenso de que as taxas de juros primárias no Brasil são
altas, e por isso devem cair mais, já está formado.O que não sabemos, e
tampouco as autoridades monetárias, é a velocidade a imprimir. Tal qual em dias
de chuva, reduzir a velocidade é natural, mas o que é mais difícil na gestão é
acertar o timing da redução.
Se for mais rápido do que o adequado, a inflação de origem
doméstica pode suplantar o componente de deflação de origem externa e interromper o
ajuste bem sucedido até aqui, em direção aos 4,5% da meta inflacionária em
2012.
Se a redução das taxas de juros for mais lenta do que o adequado, aumentam as chances de alcançar a meta de inflação ainda em 2012, mas, em contrapartida, é quase impossível levar a economia a uma taxa de crescimento econômico superior à média de crescimento registrado na década, ou seja, de 3,7%.
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