segunda-feira, 21 de maio de 2012

EM BAIXA O PODER POLÍTICO DOS BANCOS?


Bem ao contrário dos bancos norte-americanos e europeus, apanhados durante a crise de 2008 com níveis de alavancagem  inacreditavelmente altos, os bancos brasileiros cascudos pela convivência com longos períodos de alta inflação, atravessaram a crise iniciada em 2008 com ativos hegemonicamente dominados pela presença de títulos públicos. Não foram poucos os economistas (prêmios Nobel) que abriram a boca naquele momento para dizer que os bancos brasileiros não eram, de fato, bancos.

Tudo isto pode ser resumido nas relações dívida/PIB totalmente  opostas  presentes nos dois lados do planeta. Enquanto no Brasil essa relação é inferior aos 50%, nos países desenvolvidos chegou a extrapolar os 100% em vários desses países, como, por exemplo: Grécia, Itália, Espanha, Irlanda,...

Isto , no entanto, não foi sempre assim: vários desses países, no passado recente, ostentavam ratios de endividamento macroeconômico mais moderados e até exemplares.
É possível mostrar que o empenho em salvar os bancos foi orquestrado e conduzido por decisão política que levou a emissões dos tesouros nacionais muito além do adequado e responsável.

O “too big to fail” levado ao pé da letra representou uma emissão de títulos do Tesouro portentosa, posta em marcha por força do poder político dos bancos. Depois desse suporte aos buracos provocados pela iliquidez dos bancos, os Tesouros ficaram quebrados e passaram então a  submeter as populações de vários países a ajustes fiscais que não existiriam em sua ausência.

As tentativas de submeter os bancos a um padrão de regulação mais intenso malograram em toda parte, principalmente por força do poder políticos dos próprios bancos. Nem o presidente Obama conseguiu alguma coisa concreta em matéria de regulação.

A tentativa de enquadrar os bancos brasileiros, ora em curso no Brasil, tem uma dimensão bem diferente daquela que ocorre no mundo desenvolvido. Com alavancagem muito baixa e praticando as maiores taxas de juros do planeta, o sistema bancário brasileiro está sendo instado a aproximar-se dos padrões internacionais de taxas de juros, sem abandonar sua tradição prudencial no trato com o crédito convencional.

Salta aos olhos o disparate das taxas praticadas no Brasil versus o resto do mundo pelo mesmo grupo bancário. Não há argumentos que possam justificar o nível das taxas de juros e dos spreads praticados no Brasil.

Tecnicamente, um aspecto relevante da discussão macroeconômica subjacente refere-se ao estímulo ao crescimento econômico que decorrerá do aumento da demanda interna por crédito, por força da redução das taxas de juros.

 A desvalorização cambial que costuma vir associada com a queda dos juros, deve somar-se aos adicionais de demanda doméstica para pressionar a inflação, até que se consolide um novo patamar de equilíbrio. Essa mudança terá que ser administrada com cuidado, até que o novo patamar de inflação se acomode e retome a sua curva descendente de longo prazo.

A provável recuperação dos superávits comerciais, no lastro da desvalorização cambial do real, deve reduzir a absorção doméstica por poupança externa, o que acompanhado de um maior empenho  e  esforço doméstico para investir, deverá vir acoplado  a maior formação de poupança interna, principalmente através do aumento do superávit primário nas contas públicas.

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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Macroeconomista, Consultor e Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV e da FK Partners. Autor do livro Saia do Vermelho - Editora Qualitymark

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