Bem ao contrário dos bancos norte-americanos e europeus,
apanhados durante a crise de 2008 com níveis de alavancagem inacreditavelmente altos, os bancos
brasileiros cascudos pela convivência com longos períodos de alta inflação,
atravessaram a crise iniciada em 2008 com ativos hegemonicamente dominados pela
presença de títulos públicos. Não foram poucos os economistas (prêmios Nobel)
que abriram a boca naquele momento para dizer que os bancos brasileiros não
eram, de fato, bancos.
Tudo isto pode ser resumido nas relações dívida/PIB totalmente
opostas
presentes nos dois lados do planeta. Enquanto no Brasil essa relação é
inferior aos 50%, nos países desenvolvidos chegou a extrapolar os 100% em vários
desses países, como, por exemplo: Grécia, Itália, Espanha, Irlanda,...
Isto , no entanto, não foi sempre assim: vários desses
países, no passado recente, ostentavam ratios de endividamento macroeconômico mais
moderados e até exemplares.
É possível mostrar que o empenho em salvar os bancos foi
orquestrado e conduzido por decisão política que levou a emissões dos tesouros
nacionais muito além do adequado e responsável.
O “too big to fail” levado ao pé da letra representou uma
emissão de títulos do Tesouro portentosa, posta em marcha por força do poder
político dos bancos. Depois desse suporte aos buracos provocados pela iliquidez
dos bancos, os Tesouros ficaram quebrados e passaram então a submeter as populações de vários países a
ajustes fiscais que não existiriam em sua ausência.
As tentativas de submeter os bancos a um padrão de
regulação mais intenso malograram em toda parte, principalmente por força do
poder políticos dos próprios bancos. Nem o presidente Obama conseguiu alguma
coisa concreta em matéria de regulação.
A tentativa de enquadrar os bancos brasileiros, ora em
curso no Brasil, tem uma dimensão bem diferente daquela que ocorre no mundo
desenvolvido. Com alavancagem muito baixa e praticando as maiores taxas de
juros do planeta, o sistema bancário brasileiro está sendo instado a aproximar-se
dos padrões internacionais de taxas de juros, sem abandonar sua tradição
prudencial no trato com o crédito convencional.
Salta aos olhos o disparate das taxas praticadas no Brasil
versus o resto do mundo pelo mesmo grupo bancário. Não há argumentos que possam
justificar o nível das taxas de juros e dos spreads praticados no Brasil.
Tecnicamente, um aspecto relevante da discussão
macroeconômica subjacente refere-se ao estímulo ao crescimento econômico que
decorrerá do aumento da demanda interna por crédito, por força da redução das
taxas de juros.
A desvalorização
cambial que costuma vir associada com a queda dos juros, deve somar-se aos
adicionais de demanda doméstica para pressionar a inflação, até que se
consolide um novo patamar de equilíbrio. Essa mudança terá que ser administrada
com cuidado, até que o novo patamar de inflação se acomode e retome a sua curva
descendente de longo prazo.
A provável recuperação dos superávits comerciais, no
lastro da desvalorização cambial do real, deve reduzir a absorção doméstica por
poupança externa, o que acompanhado de um maior empenho e esforço doméstico para investir, deverá vir acoplado
a maior formação de poupança interna,
principalmente através do aumento do superávit primário nas contas públicas.
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