terça-feira, 1 de março de 2011

Indecisão governamental deve transferir o controle da inflação para 2012.

O maior obstáculo ao padrão de gestão econômica voltado para a sustentabilidade do crescimento da economia no Brasil é, sem qualquer dúvida, o ciclo político eleitoral.


Em um ano de eleições presidenciais, como o de 2010, por exemplo, ocorreram eleições majoritárias e proporcionais em quase todos os níveis da representação política, com exceção dos cargos municipais.




Esse é o ano em que estouram todos os orçamentos e são burlados todos os dispositivos legais, conhecidos como leis de responsabilidade fiscal.


Não é por acaso, portanto, que se verifica uma grande regularidade do recrudescimento de problemas inflacionários nos anos iniciais de mandatos eletivos. Assim foi em 2003 e está sendo em 2011.



Em 2003, empossado o novo presidente da república, a carta aos brasileiros em que consagrava seus compromissos de respeito aos contratos, foi o principal instrumento para reverter as expectativas explosivas sobre a formação da taxa de câmbio, que tanto pressionaram a inflação na época. É bom lembrar que naquele momento a taxa de câmbio chegou a ultrapassar os R$ 4,00 por Dólar.

A partir daí, de forma até bem monótona, a taxa de câmbio veio caindo até estabilizar-se nos atuais R$ 1,67 por dólar, embora logo após a crise financeira mundial de set /2008 tenha voltado aos R$ 2,40 por Dólar, depois de alcançar em alguns momentos o valor mínimo de R$1,55 por Dólar.

Esse trajeto de clara valorização do Real em relação ao Dólar nesse período (acima de 100%) representou um formidável impacto baixista sobre a inflação que, infelizmente, hoje não é mais possível.

Se as Reservas Internacionais brasileiras já alcançaram os US$ 300 bilhões, com o objetivo principal de não deixar o Real se valorizar ainda mais, é fácil entender a decisão do Banco Central de comprar o excesso de oferta de dólares no mercado. Essa disposição das autoridades monetárias revela, na prática, a existência de um piso para a taxa de câmbio em torno dos R$ 1,70 por dólar.

Sem a ajuda da valorização do Real a recondução da inflação para o intervalo de 2,0% em torno da meta de inflação para 2011, de 4,5%, é uma tarefa bem mais difícil agora.

As expectativas dos agentes econômicos sobre o IPCA para 2011 e 2012 acompanhadas e divulgadas pelo Banco Central em seu relatório Focus, mostram um distanciamento da meta de inflação que preocupa. Ao que parece os mercados ainda desconfiam não ser crível aquele comportamento do governo que revela em seu discurso a intenção de fazer o ajuste fiscal necessário.

A situação é difusa e bem confusa: enquanto certas fontes reafirmam a disposição do governo de cortar formalmente R$ 50 bilhões, em outras o destaque são os aportes do Tesouro ao BNDES para cobrir gastos com novas obras, tipo Copa do Mundo Olimpíadas, trem bala, Usina de Belo Monte, aeroportos, rombo da Caixa Econômica Federal/ Panamericano, etc.

Toda essa indefinição do governo abala a formação de expectativas dos agentes econômicos que começam a mostrar grande dispersão em suas prospecções para o futuro, minando a confiança das autoridades monetárias sobre as medidas de tendência central das amostras.

Uma conseqüência dessa instabilidade nas expectativas é aumentar os custos e sacrifícios recessivos da política monetária no combate á inflação.

Se esse estado das expectativas não começar a reverter logo, a menos da ocorrência de algum choque positivo espetacular, de que não há sinal no horizonte, o tempo para o ajuste tende a ser cada vez maior.

Esse ajuste pode tomar todo o período que vai desde hoje até o final de 2012, podendo ser ainda maior se ganhar maior vulto o choque do petróleo que apenas se inicia no Oriente Médio.

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Macroeconomista, Consultor e Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV e da FK Partners. Autor do livro Saia do Vermelho - Editora Qualitymark

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