quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Certificados de Recebíveis Imobiliários–CRI, lastreados em aluguéis não servem mais para enquadramento imobiliário no Sistema Financeiro da Habitação

Logo nos primeiros dias de 2011, na mesma semana de posse da nova presidente da república Dilma Roussef, o Banco Central do Brasil divulgou nova resolução proibindo a utilização de Certificado de Recebíveis Imobiliários - CRI, lastreados em aluguéis como ativos imobiliários a serem considerados para fins de enquadramento das instituições autorizadas a operar na captação de recursos das cadernetas de poupança.



Esta decisão não se aplica a todos os tipos de CRIs, especialmente aqueles que tem como lastro prestações decorrentes do financiamento das Sociedades de Crédito Imobiliário – SCI.



Em nosso país, as operações de securitização lastreadas em recebíveis são relativamente recentes e ainda não alcançaram a representatividade a que chegaram nos EUA.


A história recente de derrocada do crédito imobiliário naquele país justifica uma certa apreensão em nosso país, que vê com preocupação natural a possibilidade de repetição da experiência dos EUA.



A securitização desenfreada nos EUA, nunca foi acompanhada pelos alemães, por exemplo, que sempre viram com preocupação o descontrole que a securitização promove na liquidez dos países, pois esse processo reduz exageradamente o espaço dos Bancos Centrais na gestão eficiente dos níveis de liquidez.



Nossa experiência com a gestão da liquidez desde os tempos do Banco Nacional da Habitação - BNH, e, depois disso, com a total concentração de poderes nas mãos do Banco Central, traz alguma luz sobre o assunto:





1. As SCI costumam operar com exigibilidades imediatas nas fontes de recursos, principalmente das cadernetas de poupança, e ativos com duração longa, podendo chegar a mais de 15 anos em média;


2. Apesar das operações se realizarem com base nas hipotecas (bens de raiz), esse descasamento de prazos é o mais elevado de todo o Sistema Financeiro. É, ao mesmo tempo, o de maior risco e o que gera os maiores níveis de liquidez;



3. Por isso, as preocupações com a liquidez do sistema levou no passado à criação do Fundo de assistência de Liquidez – FAL, que trabalhava com um encaixe mínimo próximo a 15% de todos os recursos captados pelo Sistema Finaceiro da Habitação -SFH;



4. Esses controles, hoje a cargo do Banco Central, não são tão explícitos como deveriam em um mundo em que, depois da crise financeira de 2008, trabalha com níveis de reservas bem mais elevados;



5. De maneira ainda mais clara, podemos dizer que a alavancagem das instituições autorizadas a operar com recursos do SFH são maiores do que a média do Sistema Financeiro Nacional e, ademais, seus spreads são os menores de todo o sistema, o que , por si só já nos merece uma atenção e gestão especial;



6. Finalmente, cabe ainda apontar que a existência de bancos múltiplos, onde se misturam as baixas alavancagens dos bancos privados brasileiros, com seus altos spreads, não é suficiente para lidar com a fragilidade estrutural do SFH.





A crise de 2008 mostrou que as conexões entre os vários bancos e dentro deles são
uma condição de fragilidade que ainda subsiste hoje e, portanto, deve ser enfrentada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Total de visualizações de página

Quem sou eu

Minha foto
Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Macroeconomista, Consultor e Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV e da FK Partners. Autor do livro Saia do Vermelho - Editora Qualitymark

Seguidores

Livros interessantes

  • Pai Rico Pai Pobre
  • Saia do Vermelho _ Editora Qualitymark. Autores Mario Juan Leal e Fernando Swami