sábado, 23 de outubro de 2010

A Macroeconomia da Sustentabilidade: o que se pode esperar dos Economistas.

A presença da agenda da sustentabilidade nos discursos e propostas dos candidatos a presidente da república do Brasil, é cada vez mais visível. Isto não poderia ser diferente, pois reflete, principalmente, a preocupação com o destino dos vinte milhões de votos obtidos pelo Partido Verde nas urnas no primeiro turno das eleições em 2010.

O entendimento alcançado pela questão da sustentabilidade no país é ainda bastante difuso e variado. Sua compreensão é fortemente afetada pelo grau de educação do cidadão. Em nosso país, onde o analfabetismo formal e funcional é ainda dominante na grande maioria da população, a votação confirmada nas urnas às teses do Partido Verde, pode ser considerada um notável feito, especialmente em sua dimensão política.


No outro extremo da compreensão do fenômeno da sustentabilidade estão aqueles cuja iniciação a um mínimo de escolaridade lhes permitiu desenvolver alguma reflexão crítica em torno do tema. A racionalidade é mais substantiva (valores) do que formal ou funcional (ciência), mas suficiente para permitir a formação de opinião em torno do tema.

Mesmo associada a um acesso à informação bastante diferenciado ou às vezes superficial e rarefeito, a sustentabilidade se espalha em grande espectro. Vai desde uma visão estritamente econômica, passa pelo princípio da emissão zero dos ambientalistas ortodoxos, cada vez mais preocupados com as mudanças climáticas, e chega ao discurso do tudo pelo social dos comunistas renitentes.

Os verdes que condicionavam sua adesão a um ou a outro candidato, ao conteúdo programático de sua proposta de campanha, optaram pela neutralidade no 2º turno. Apesar disso, suas contribuições foram além, pois trouxeram à tona um importante debate, ainda em aberto no paradigma da gestão publica. Esse ponto refere-se à notória incapacidade do instrumental das Políticas Públicas de assegurar consistência e efetividade à ação estratégica do governo.

É bom lembrar que a recuperação do Planejamento Governamental como principal instrumento a conciliar estrategicamente essa enorme pluralidade de Políticas Públicas dispersas, fez parte essencial do discurso dos verdes em todos os debates de que participou sua candidata durante a campanha.

A destruição da abordagem do Desenvolvimento Urbano que, há mais de 40 anos atrás, já presidia e articulava as Políticas Públicas de Habitação, Saneamento, Transporte Público de massa e Infraestrutura urbana, na perspectiva integrada das cidades e das Regiões Metropolitanas, ainda não foi resgatada até os dias de hoje.

Os economistas, em geral, costumam se referir à agenda ambiental condicionada a seu paradigma maior como Desenvolvimento sustentado ou sustentável.

O exemplo a seguir ilustra de maneira importante um dos principais significados do Desenvolvimento Sustentado para os economistas.

Consultado um grupo de economistas - formuladores de Política Econômica, sobre suas preferências em torno de duas possibilidades de crescimento econômico para seu país em dois anos seguidos, a saber:

1º. Crescer 10% no primeiro ano e 0% no segundo ou

2º. Crescer 4,9% no primeiro ano e 4,9% no segundo ano.

O resultado que obtivemos foi de preferência quase absoluta pela 2ª alternativa. Mesmo sem recorrer a cálculos complexos ou sofisticados, manifesta-se aí uma natural aversão aos riscos associados à primeira alternativa, que são maiores, para um mesmo retorno médio.

Em linguagem mais simples, as pessoas percebem que se puderam escolher, a opção mais razoável é a do crescimento equilibrado ou sustentado.

Assim raciocinam os economistas quando falam da Sustentabilidade. Em vez de situações extremadas, o bom senso os leva a procurar o Desenvolvimento Sustentado.

Em vez de submeter à economia aos humores do calendário político, o Desenvolvimento deve procurar mitigar os surtos de crescimento episódicos (vôo de galinha) em favor da sustentabilidade.
Em vez de exaurir a terra, o capital físico ou humano em períodos curtos, o equilíbrio na utilização dos recursos deve incorporar-se como diretriz a nortear a ação de governo. Este sim é um contraponto inteligente às ondas exógenas e imperativas do ciclo econômico.

Finalmente, vale dizer, a entronização da sustentabilidade no ambiente econômico representa pelo menos três pontos altamente positivos para a sociedade:

I. Elevar seu status dentro da condução da Economia, passando de mera restrição (custos) para a categoria de princípio ou diretriz maior;

II. Abrir espaço para a volta do Planejamento Governamental e da Estratégia ao comando da ação governamental;

III. É totalmente consistente com a busca da estabilidade financeira, assumida agora como Mandato pelas economias, no rastro da superação da crise financeira deflagrada em 2008 nos EUA e de cujas consequências recessivas a maior parte delas ainda tenta se livrar.

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Macroeconomista, Consultor e Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV e da FK Partners. Autor do livro Saia do Vermelho - Editora Qualitymark

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