domingo, 19 de setembro de 2010

A primeira década de crescimento econômico do século XXI: Markowitz

A taxa real de crescimento do PIB brasileiro em 2010 foi estimada pelo FMI em 7,10%, um ano depois da queda de -0,2% registrada em 2009.





Em termos relativos, no entanto, podemos visualizar melhor a importância dos números se nos comparamos com o crescimento registrado em todo o planeta vis-à-vis o registrado na China e nos principais países desenvolvidos.





Como se pode ver na tabela acima, a taxa de crescimento do país ficou próxima da média mundial em 2009 e a superou com folga em 2010. Dois eventos dignos de nota a destacar são:


a) o fato de que nos dois anos que sucederam à crise mundial, deflagrada no coração financeiro dos EUA, as taxas de crescimento brasileiras suplantaram com folga as registradas nos países mais desenvolvidos e
b) essas mesmas taxas ficaram bem abaixo das registradas na China.


A interrogação natural que fazemos volta-se, então, para a sustentabilidade desse processo de crescimento econômico e que, afinal, é o que interessa à sociedade.


Com base nos dados conhecidos para esta primeira década do século XXI, podemos tirar algumas conclusões importantes e quase impossíveis de ver em horizontes curtos:


I. A taxas de crescimento apontadas pelo FMI para 2011, que figuram na coluna C, mostram para o Brasil uma expansão real de 4,2%, bem inferior aos 7,1% de 2010. Esse resultado é bem significativo pois, além de denunciar uma queda bem acentuada do crescimento do PIB, confirma a presença de alta instabilidade ou volatilidade acima do normal, conforme apontada pelos dados da década(coluna E). Para reforçar o afirmado, convém observar que esses 4,2% são superiores, aos 3,7% da media registrada na década para o Brasil. Esses 0,6% de desvio em relação à média representam pouco (menos de 25%) se comparados com o desvio padrão da década que foi de 2,3%(ver coluna E);


II. As taxa de crescimento estimada para a China, também pelo FMI, é de 8,90%, inferior á média registrada na década, de 10,0%. Esse desvio é de 1,1%, agora abaixo da média, é maior do que o esperado para o Brasil em termos relativos, pois representa 70% de um desvio padrão para a década, que ficou em 1,4%(ver coluna E);

III. A observação da Relação Retorno Médio e Risco, como sugerido por Markowitz, representando de forma sintética a busca incessante das sociedades por mais crescimento sem inflação, com a menor instabilidade ou volatilidade possível sobre as taxas de crescimento do produto, traz uma contribuição positiva nas investigações sobre a hegemonia indiscutível da estratégia chinesa de crescimento econômico.


Considerando como Retorno Médio a média das taxas de crescimento observadas e, ademais, o desvio padrão dessas mesmas taxas como medida da volatilidade ou risco associado ao processo cíclico de crescimento, foi possível obter os resultados para a relação retorno risco presentes na década.

Apresentados abaixo em ordem decrescente estão os valores dessas relações em suas correspondências com os países e regiões listados na tabela (coluna F):

1. CHINA –> 7,0
2. MUNDO –> 2,1
3. BRASIL –> 1,6
4. EUA –> 1,1
5. EURO –> 0,6
6. JAPÃO –> 0,4

Se pudéssemos escolher, nós brasileiros iríamos preferir parecer mais com a China do que com o resto do mundo. A menos de questões distributivas, uma relação entre a taxa média de crescimento e a medida de sua volatilidade mais próxima a 7,0 permitiria aumentar em muito a velocidade de criação de empregos, com uma incorporação de milhões de pessoas à economia formal de padrão chinês.

Finalmente, acreditamos que as possibilidades de aproximação da economia brasileira de uma Relação Retorno/Risco mais elevada do que a observada na última década ainda deverá passar pela conquista de reformas estruturais (Previdência, Tributária, Trabalhista, etc). Mas, também cremos que há alguns aspectos fundamentais de Política Econômica, que estão ao nosso alcance de imediato:

  • Trazer a taxa Selic e os spreads bancários para padrões aceitáveis;
  • Uma política cambial competitiva;
  • Conformidade do crédito direcionado aos dispositivos legais (responsabilidade fiscal)
  • Recondução do governo à condição de poupador líquido, etc.

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Macroeconomista, Consultor e Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV e da FK Partners. Autor do livro Saia do Vermelho - Editora Qualitymark

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