sexta-feira, 9 de julho de 2010

Reviravolta nos EUA: Tesouro fica com o mandato de gerenciar o risco sistêmico.

Até o advento da crise em set/2008 as grandes responsabilidades cobradas dos presidentes do FED sempre foram a inflação e o nível de emprego associado. Como instrumento principal da Política Monetária, a taxa de juros adequada é operada através dos mecanismos do open-market, do redesconto e das reservas compulsórias.

A novidade trazida pela crise foi intensificar a demanda por políticas regulatórias. As evidências da presença de arranjos financeiros desastrosos e inadequados para o funcionamento das economias estão por toda parte.

A constatação da existência de um número excessivamente elevado de instituições catalisadoras de risco sistêmico, continua a ser um desafio a ser encarado de frente por toda a comunidade de países.

A presença de Paul Volcker à frente de um grupo de conselheiros do presidente Barack Obama, responsável por avaliar as efetivas possibilidades de tornar operacionais as principais propostas de Reforma Financeira por ele encaminhadas ao Congresso, tem sido parte importante de sua estratégia e revela seu empenho em promover mudanças.

A disposição e o sucesso com que Volcker enfrentou a inflação nos EUA na década de 80, quando chegou a superar os 15,00% ao ano, foram decisivos no seu credenciamento para essa nova tarefa.

Os economistas brasileiros que atuavam na análise macroeconômica naquele período, não esquecem que a brutal elevação das taxas de juros norte-americanas, que mirava combater a inflação doméstica, acabou levando o Brasil a enfrentar um verdadeiro choque de juros, que teve como principal conseqüência a moratória da dívida externa em 1982.

Agora, a tarefa de Volcker é bem diferente. Não se situa sobre o mandato do combate à inflação, clássico da política monetária, mas, em vez disso, diz respeito a questões regulatórias.

Entre tantas outras tarefas voltadas para a estabilidade financeira, a nova regra de Volcker deve ser capaz de enfrentar o desafio de gerenciar o risco sistêmico oriundo das interconexões globais entre moedas, depósitos e produtos financeiros, cuja sofisticação associada ao gigantismo de algumas instituições financeiras elevou os riscos macroeconômicos a níveis excessivamente altos.

A crise financeira em set 2008, apenas confirmou o grande equívoco cometido quando se adotou a premissa da autoregulação plena dos mercados financeiros.

De positivo ficou a oportunidade posta pela crise de abrir espaço para uma nova síntese, onde a opção pela sustentabilidade econômica passou a colocar a Estabilidade Financeira no mesmo plano de importância do controle da Estabilidade de preços e da inflação.

A boa notícia fica por conta do sucesso de Obama em costurar no Congresso um novo acordo em torno da Reforma Financeira, resgatando partes importantes já tidas como derrotadas em suas primeiras investidas.

O restabelecimento da Lei Glass-Steagall (Muralha da China), acoplada ao desmembramento progressivo das instituições geradoras de risco sistêmico, acompanhadas pela atribuição formal de mandato específico para o acompanhamento e gestão do risco sistêmico a uma Agência Central de Supervisão de Serviços financeiros subordinada ao Departamento do Tesouro, descrevem o núcleo principal da Reforma Financeira nos EUA.

Assim, pode-se considerar como bem sucedida a estratégia seguida, pois ,segundo a avaliação do próprio presidente Barack Obama, foram aproveitadas em torno de 90% as idéias originais mais importantes.

Um comentário:

  1. Excelente!
    A sua análise levanta com objetividade as recentes mudanças nos cenários político e econômico norte americano, com implicações “around the World”.
    Fica clara a necessidade de manter sob controle as atividades no setor financeiro dos EUA, para que os chamados "Too Big to Fail" não voltem a derrubar as atividades no Mundo inteiro.

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Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Macroeconomista, Consultor e Professor da Fundação Getúlio Vargas - FGV e da FK Partners. Autor do livro Saia do Vermelho - Editora Qualitymark

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