No outro extremo da compreensão do fenômeno da sustentabilidade estão aqueles cuja iniciação a um mínimo de escolaridade lhes permitiu desenvolver alguma reflexão crítica em torno do tema. A racionalidade é mais substantiva (valores) do que formal ou funcional (ciência), mas suficiente para permitir a formação de opinião em torno do tema.
Mesmo associada a um acesso à informação bastante diferenciado ou às vezes superficial e rarefeito, a sustentabilidade se espalha em grande espectro. Vai desde uma visão estritamente econômica, passa pelo princípio da emissão zero dos ambientalistas ortodoxos, cada vez mais preocupados com as mudanças climáticas, e chega ao discurso do tudo pelo social dos comunistas renitentes.
Os verdes que condicionavam sua adesão a um ou a outro candidato, ao conteúdo programático de sua proposta de campanha, optaram pela neutralidade no 2º turno. Apesar disso, suas contribuições foram além, pois trouxeram à tona um importante debate, ainda em aberto no paradigma da gestão publica. Esse ponto refere-se à notória incapacidade do instrumental das Políticas Públicas de assegurar consistência e efetividade à ação estratégica do governo.
É bom lembrar que a recuperação do Planejamento Governamental como principal instrumento a conciliar estrategicamente essa enorme pluralidade de Políticas Públicas dispersas, fez parte essencial do discurso dos verdes em todos os debates de que participou sua candidata durante a campanha.
A destruição da abordagem do Desenvolvimento Urbano que, há mais de 40 anos atrás, já presidia e articulava as Políticas Públicas de Habitação, Saneamento, Transporte Público de massa e Infraestrutura urbana, na perspectiva integrada das cidades e das Regiões Metropolitanas, ainda não foi resgatada até os dias de hoje.
Os economistas, em geral, costumam se referir à agenda ambiental condicionada a seu paradigma maior como Desenvolvimento sustentado ou sustentável.
O exemplo a seguir ilustra de maneira importante um dos principais significados do Desenvolvimento Sustentado para os economistas.
Consultado um grupo de economistas - formuladores de Política Econômica, sobre suas preferências em torno de duas possibilidades de crescimento econômico para seu país em dois anos seguidos, a saber:
1º. Crescer 10% no primeiro ano e 0% no segundo ou
2º. Crescer 4,9% no primeiro ano e 4,9% no segundo ano.
O resultado que obtivemos foi de preferência quase absoluta pela 2ª alternativa. Mesmo sem recorrer a cálculos complexos ou sofisticados, manifesta-se aí uma natural aversão aos riscos associados à primeira alternativa, que são maiores, para um mesmo retorno médio.
Em linguagem mais simples, as pessoas percebem que se puderam escolher, a opção mais razoável é a do crescimento equilibrado ou sustentado.
Assim raciocinam os economistas quando falam da Sustentabilidade. Em vez de situações extremadas, o bom senso os leva a procurar o Desenvolvimento Sustentado.
Em vez de submeter à economia aos humores do calendário político, o Desenvolvimento deve procurar mitigar os surtos de crescimento episódicos (vôo de galinha) em favor da sustentabilidade.
Em vez de exaurir a terra, o capital físico ou humano em períodos curtos, o equilíbrio na utilização dos recursos deve incorporar-se como diretriz a nortear a ação de governo. Este sim é um contraponto inteligente às ondas exógenas e imperativas do ciclo econômico.
Finalmente, vale dizer, a entronização da sustentabilidade no ambiente econômico representa pelo menos três pontos altamente positivos para a sociedade:
I. Elevar seu status dentro da condução da Economia, passando de mera restrição (custos) para a categoria de princípio ou diretriz maior;
II. Abrir espaço para a volta do Planejamento Governamental e da Estratégia ao comando da ação governamental;
III. É totalmente consistente com a busca da estabilidade financeira, assumida agora como Mandato pelas economias, no rastro da superação da crise financeira deflagrada em 2008 nos EUA e de cujas consequências recessivas a maior parte delas ainda tenta se livrar.